05/07/2013

Yoga nas Escolas



Entrevista com Micheline Flak realizada por Marc Questin

O yoga visa antes de tudo desenvolver a atenção.   Os educadores sonhavam há muito tempo em conhecer as chaves da Palavra, de poder gerar uma escuta essencial e profunda. Este desejo encontra doravante um início de realização graças à iniciativa pedagógica do RYE, o Centro de Pesquisa sobre o Yoga na Educação. Fortalecida com uma longa e sólida experiência de professora de inglês e de yoga, Micheline Flak trabalha após numerosos anos para que as técnicas de yoga que favorecem a atenção e a concentração sejam progressivamente introduzidas no âmbito do sistema escolar. Especialista qualificada de técnicas de relaxamento profundo, Micheline Flak organizou desde 1983 Fóruns de Pedagogia. Esta experiência inovadora, positiva tanto para os alunos como para os professores, se fundamenta nas técnicas tradicionais. Na entrevista que se segue, ela nos dá seu ponto de vista sobre o aporte do yoga à educação. A introdução das técnicas de yoga nas escolas traz uma contribuição sutil e profunda à evolução qualitativa do ensino.

Nouvelles Clés: Micheline Flak, você fundou o RYE e desde 1978 trabalha sobre certas técnicas de yoga no âmbito da Educação nacional. Você pode precisar seu objetivo?

Micheline Flak: A Educação nacional é bastante vasta para acolher formas de ensino diversificadas que podem surpreender. Como você relembrou, o RYE existe exatamente há onze anos. Sua fundação oficial (de acordo com a lei 1901 sobre as organizações de interesse público) data dessa época, mas bem antes nós tínhamos por hábito nos reunir regularmente com alguns colegas para refletir sobre os meios de ajudar as crianças a prestarem atenção. Isso parece completamente anódino, mas, agir com atenção é o grande propósito do yoga e das disciplinas associadas, embora no Ocidente o costume seja só repetir “prestem atenção!”, “escutem-me bem crianças!”, como se fosse simples fazer esse esforço. Ora, isso exige uma educação. O desenvolvimento da memória é todo um investimento e o yoga tem uma vasta experiência das técnicas e dos meios necessários para tornar o mental ativo, eu diria mesmo, para torná-lo receptivo, o que é essencial na aprendizagem. Observamos hoje que as crianças têm miolos “como peneiras”, que o que “entra por um ouvido sai pelo outro”. E ainda não há estudos suficientes sobre as alterações que acontecem no mental quando se está submetido aos efeitos do estresse. Sabe-se bem, por exemplo, que as pessoas deprimidas têm perdas de observação, atenção, que elas são mais afeitas aos acidentes, por sua desatenção. Trata-se aí de um comportamento patológico. Mas a falta de atenção é um fenômeno corrente que atinge todos e particularmente os jovens. 

N.C.: A criança que praticaria certos exercícios de yoga para cultivar sua atenção desenvolveria então, uma certa proteção, um certo distanciamento em relação às tentações do mundo moderno?

M.F.: Penso que sim. Faço parte de uma associação que se ocupa da televisão e de seus efeitos sobre o espírito dos jovens. Uma criança de doze anos passa mais horas diante de sua televisão que diante de suas lições e deveres. É certamente o contrário de uma sentada silenciosa. Eu fiz a experiência.  Existem técnicas reparadoras que podem ser aprendidas na escola; elas permitem às crianças lançarem sobre si mesmas as sementes de novos comportamentos que as ajudarão a encontrar uma maneira mais justa de ser e de se divertir.

N.C.: Que lugar você dá ao corpo e qual o olhar de seus colegas de educação física sobre sua iniciativa?

M.F.: Esta relação é bastante ambígua. O yoga é curiosamente percebido no Ocidente. Costuma-se concebê-lo sob os efeitos unicamente do hatha yoga. Assim, nós aparecemos amiúde aos professores de educação física como rivais. Mas para nós, quando nós dizemos a palavra yoga, pensamos no yoga mental. É a forma de yoga de fato que nos interessa mais na escola, pois nós temos que nos ocupar de crianças que são limitadas a um espaço muito restrito e que ficam sentadas. O yoga só pode ser praticado entre mesas e cadeiras. Mas se pode alongar, aprender a se sentar corretamente, a fazer uma báscula da bacia que garante a saúde das lombares. Pode-se: aprender a bocejar... quando se sai de uma avaliação escrita .... Os exercícios do tipo respiratório são os mais importantes. A ele se acrescentam igualmente os exercícios de relaxamento, na posição sentada. Quanto aos alongamentos, eles representam 30 ou 40% do yoga que nós praticamos em sala.

N.C.: Vocês trabalharam também o yoga irano-egípcio?

M.F.: Sim, por intermédio de Jacques de Coulon, um co-fundador do RYE que foi formado nas técnicas de yoga egípcio. Nós bebemos em todas as fontes de yoga, não somente no yoga indiano.

N.C.: Enquanto professora de inglês, você ensina uma língua estrangeira e você se interessa pela sugestopedia. Qual é sua experiência, em relação à aprendizagem de línguas, da relação entre o trabalho do sopro e a memória?

M.F.: A sugestopedia tem relações evidentes com o yoga na escola. Seu fundador, Lozanov, é um psicólogo búlgaro de grande qualidade que morou muito tempo na Índia. Ele se interessa muito pelo yoga, que o influenciou, a ponto de que certas técnicas que ele utiliza são verdadeiramente muito próximas das nossas. Parece que nas técnicas que ele elaborou e que utiliza na Bulgária, ele dá uma grande importância à relação entre o estado do mental, o estado da atenção e as fases respiratórias. Porém, nas formas atuais de seu ensino, se usa a música, os concertos, a descontração, e ele não apelou ao yoga enquanto tal. De meu lado, professora da educação nacional, sou particularmente consciente da dificuldade que provoca a introdução deste termo de sugestopedia assim como da palavra yoga. Nós somos professores que querem adaptar o essencial guardando sempre as referências às fontes tradicionais testadas pelo tempo. Conhecemos as fontes sânscritas sem que seja indispensável nomeá-las.

N.C.: No seio do RYE vocês formam igualmente professores nessas técnicas?

M.F.: Damos uma formação em dois anos, com níveis posteriores de aprofundamento. Ensinamos no primeiro ano o desenvolvimento sensório-motor, de maneira a estender entre as crianças uma atenção auditiva, visual, tátil, uma atenção fundada sobre uma boa administração das energias corporais. No segundo ano, o RYE ensina aos professores a fazerem eles mesmos referência à tradição, ao raja yoga, e a criar por si mesmos, para seu uso em classe, exercícios adaptados.

N.C.: O raja yoga é a fonte principal?

M.F.: Sim, essencialmente. Raja yoga quer dizer yoga real. Na medida em que hoje se fala muito de psicossomático, sabe-se muito bem que, previamente à doença, existe uma certa atitude emocional ou mental. Não se pode mudar o fato de que nosso ensino seja hiper-intelectualizado. É preferível colocar o intelecto em estado de funcionar o melhor possível. Penso que seria útil ensinar as leis da higiene mental, pois se conhece pouco, no Ocidente, sobre a melhor maneira de se recuperar de uma fadiga nervosa. Sobre que suporte o espírito poderá se alongar como o corpo se alonga no solo? Já faz muito tempo que se trata de encontrar a maneira de descansar o espírito. As pesquisas de neurofisiologia, neuropedagogia, por exemplo, os trabalhos de Hélène Trocmé-Fabre na França, mostraram que o cérebro se impregna de conhecimentos que se lhe dá, tanto melhor quanto depois de um curso ou uma aula ele terá tido um breve momento de relaxamento. Os bons professores sempre aportaram uma pequena nota de alegria ou de descontração após um curso difícil. O relaxamento favorece a fixação dos conhecimentos.

N.C.: Vocês já constataram uma melhoria no estado de saúde de alguns de seus alunos?

M.F.: Nós percebemos, ao interrogar os alunos, que uma imensa maioria tinha dificuldade de dormir à noite, em consequência de uma superativação do sistema simpático, devido ao modo de vida, o estresse, os filmes vistos antes de se deitar. Proponho aos jovens prolongar a noite em suas camas com exercícios feitos em sala de aula. Sobre as costas, em suas camas, eles devem fazer uma respiração com um ritmo mais lento na expiração. Vários alunos me disseram ter conseguido dormir melhor em seguida. Isso poderia servir também para os adultos!

N.C.: Você utiliza métodos de yoga nidra?

M.F.: A característica e a eficácia do yoga nidra, yoga nidra querendo dizer yoga do sono – poderíamos dizer também o yoga do despertar – que é uma forma de relaxamento profundo, cuja especificidade é a rotação da consciência nas diferentes partes do corpo. Quer dizer uma tomada de consciência corporal sistemática das partes do corpo. O retorno à sensação do corpo é absolutamente essencial ao equilíbrio. Quanto mais um ser humano é consciente de suas raízes, mais ele está apto a desenvolver seu potencial. Na escola, não falarei de yoga nidra, mas de tomada de consciência do corpo, da respiração, dos mecanismos do mental e da memória.

N.C.: Como você concebe a noção de equilíbrio na criança?

M.F.: O Ocidente não sabe muito bem. A educação deve permitir a um ser humano descobrir os territórios imensos que estão nele e em particular as zonas de criatividade. Ao favorecer o olhar interior, desenvolve-se a concentração, mas também a confiança em si. A partir daí se leva alguns alunos a se conhecerem melhor, a melhor administrar seu potencial. Semeamos grãos de equilíbrio que desabrocharão em comportamentos de autonomia.

N.C.: Não existe uma relação entre sua pedagogia e as ideias de Rudolf Steiner, de Célestin Freinet ou de Maria Montessori?

M.F.: Certamente. Creio que os inovadores retornaram sempre aos mesmos princípios esquecidos. O ser humano não é somente um intelecto. Lembro-me de uma frase célebre de Thoreau: “Um homem pensa também com seus braços e suas pernas, e não somente com seu cérebro. Exageramos um pouco sobre a importância do quartel general”.
Existem grandes relações entre o retorno a si que preconizamos, com o retorno à educação artística que enfatizamos muito no RYE. A música, o desenho, o teatro, a expressão corporal “tudo o que revaloriza a manifestação do ser total” do gestual, “da elocução” tudo isso entra na nossa reflexão e nossa prática.

N.C.: Você trabalhou sobre a especificidade dos hemisférios cerebrais? Falando nisso, penso no livro de Swami Satyananda sobre a respiração do cérebro, o swara yoga.

M.F.: Ele é de fato um dos assuntos mais surpreendentes que vivemos nos últimos anos, haja vista a concomitância entre as pesquisas sobre o cérebro e os dados imemoriais do yoga. Roger Sperry, que recebeu o Prêmio Nobel em 1973 por suas pesquisas sobre a especificidade dos hemisférios cerebrais, fez descobertas que podem ser postas em paralelo com os múltiplos exercícios de polaridade direita/esquerda, alto/baixo, atrás/na frente, do yoga, sem esquecer a célebre respiração alternada que evoca os exercícios de saúde taoístas.  A verdadeira inteligência, seja do corpo ou do espírito, procede de uma dosagem exata entre essas duas energias. Ficamos maravilhados de ver que os Antigos haviam descoberto a necessidade de uma educação holística que permite a um indivíduo aumentar, se posso dizer, seu nível de vida e eu ousaria acrescentar que, a maior parte dos indivíduos, mesmo carregados de diplomas, vive num nível energético apenas equivalente ao SMIG (Salário Mínimo Interprofissional Garantido). A apreciação dos finos valores da vida não é proporcional aos ganhos financeiros. Da mesma forma o nível de consciência de um aluno influencia enormemente a qualidade de sua aprendizagem. Alguns considerados como “fracos” dão um salto quando têm a possibilidade de utilizar outros parâmetros sensoriais que a audição e a visão. Aprende-se bem de verdade com o corpo todo.

N.C.: Em que medida você utiliza o mantra?

M.F.: Nós queremos que os ensinantes estejam afinados com a realidade da tradição. Nós notamos que o mantra se fundamentava sobre a repetição de um mesmo fonema. Como observava com bastante humor, Krishnamurti, se fazemos alguém repetir “Coca-Cola, Coca-Cola, Coca-Cola...” suas ondas cerebrais se acalmam! Isso faz lembrar o hábito que têm as crianças, e perdem ao crescer, de repetir continuamente uma mesma palavra que lhes interessou. Quando ensinamos aos alunos, sabemos que a repetição é extremamente eficaz. Servimo-nos de conhecimentos tradicionais, mas não confundimos o mantra com o trabalho de classe.

N.C.: Qual é o voto que você formularia para o futuro e a justa evolução do RYE?

M.F.: Parece-me que o RYE ganhará cada vez mais audiência pelo fato de ser um grupo de reflexão sobre as relações que existem entre a tradição e a ciência contemporânea. O futuro da aprendizagem reside na adaptação das últimas descobertas em neuropedagogia e nós trabalhamos com pesquisadores no plano internacional. Nossa pesquisa cria uma corrente europeia “original e consistente”. Existe uma tradição de educação na Europa que dá seu lugar ao respeito das raízes comuns. Falta-nos uma política que mantenha viva a criatividade sob aspectos diversos. Penso que existem formas de espiritualidade moderna, que não levam nem mesmo esse nome. Elas consistem em se colocar à escuta da Terra, da natureza e do cosmos, mas em suas relações com nossa Terra, nossa natureza e nosso cosmos interiores. Existe aí uma superação de si, de ampliação da consciência, cujas premissas podem ser aprendidas na escola quando, por exemplo, fazemos as crianças tomarem consciência de uma respiração comum. A sala se torna então o lugar emblemático onde brotam todas as fontes.

Para saber mais: http://rye.free.fr

10/04/2013

AGENDE-SE: Seminário Internacional do EURYE em Évian - França, de 20 a 26 de julho 2013.

A cada dois anos acontece um Seminário Internacional do RYE europeu. Este ano a França foi o país escolhido. O Centro onde os participantes se hospedam e acompanham as atividades se situa diante do magnifico lago Le mans.

O Tema deste ano: “ Inspirar os cidadãos do futuro”
                   

Este Seminário faz parte do Curriculum para obtenção do Diploma RYE.
Para mais informações, procure uma representação do RYE no Brasil ou acesse:   http.//www.eurye.eu
                                                               
                              
               
                                                                 


                                        

25/02/2013

Curso 2013

ATENÇÃO ÀS MUDANÇAS DE DATAS

Saiu no Le Monde de 11/11/12






Jennifer, Aliénor, Gabriel... ponham os tapetes em forma de estrela. Vamos nos sentar, as pernas cruzadas em lótus. Inspiramos pelas narinas, expiramos pelas narinas... calmamente... Apenas
 sentimos o ar que entra e sai... As costas eretas, vamos estender as mãos bem alto para o céu, como para tocar o topo de uma montanha. Agora, relaxem tudo e bocejem. Vamos nos levantar e nos inclinar balançando os braços" : Ulrika Dezé, graduada em ciências da educação e fundadora de Yogamini, um método lúdico e pedagógico de yoga, começa sua aula com os alunos da 2ª série do ensino fudamental da escola particular conveniada de Francs-Bourgeois, em Paris.

O projeto começou há três anos. "A diretora constatava que muitas crianças estavam estressadas, com dor de barriga e de cabeça. Elas tinham dificuldade de concentração e isso repercutia na sala. Propus uma oficina de yoga durante seis meses, e os resultados foram tão positivos, os professores ficaram tão satisfeitos, que as aulas foram implementadas. Se as crianças estão melhores em seus corpos e em suas cabeças, elas estão melhores na escola", diz Ulrika Dezé com um sorriso caloroso.
O yoga para crianças é bem diferente daquele destinado aos adultos. Assim, as aulas alternam histórias onde se imita as posturas, o cisne, a vela ou a árvore, episódios relaxantes baseados na respiração para acalmar as emoções, desenhos de mandalas favorecem a concentração e jogos que melhoram a relação com o outro. Em alguns minutos, estes alunos agitados estão relaxados, concentrados e sorridentes. Mesmo os mais indisciplinados, como Paul :"Adoro o yoga porque não é trabalho e isso me descontrai." Aliénor chega a fazer exercícios em casa pela manhã. "Trabalho melhor em sala, aprendo melhor", confessa ela. Todos os alunos da 2ª série são unânimes em dizer que essa prática lhes faz bem.
Caroline Allard, a professora deles confirma. "Quando eles saem da aula de yoga semanal, eles estão concentrados, descansados, e posso aprofundar a aprendizagem. Paul chega agora a ficar calmo. Ao final das sessões, vi sua atitude mudar e suas notas subirem ! A escola privilegia os resultados e o intelecto. Raramente o ser.  São eles que me perguntam : "Professora, e se  respirássemos cinco minutos, se fizéssemos a árvore ?"
Para Ulrika Dezé, é importante sensibilizar os educadores para esta experiência e formá-los ao yoga. "Eles fazem as aulas, e isso lhes dá um instrumento em sala de aula. Se eles estão menos estressados e voltam à calma interior, também saberão ensinar  melhor e gerenciar sua sala", observa ela. Formar os educadores é um eixo essencial do yoga na escola, defendido por Micheline Flak, pioneira na França com um projeto piloto no colégio Condorcet em 1973, em Paris, e fundadora da associação Recherche sur le yoga dans l'éducation – Pesquisa sobre Yoga na Educação (RYE) em 1978. Ela formou mais de dois mil educadores que integraram o relaxamento em seu tempo de aula – obtendo resultados surpreendentes entre alunos com dificuldade.
O yoga se implanta no meio escolar e já abrange 70 000 alunos. Dominique Daumail, professor de educação física e esportiva num colégio de Pontoise, testemunha : "Tenho adolescentes de 15 à 18 anos e muitos deles são  indisciplinados e ansiosos. Faço-os respirar traçando uma linha  ascendente e  depois descendente, insistindo sobre a expiração para eliminar as tensões e reduzir o estresse físico, emocional e mental. EIes se acalmam em menos de cinco minutos, depois observam interiormente seu estado de calma, de concentração e de escuta. Então eles estão prontos para aprender."
Tornar os alunos autônomos, é seu objetivo. "Após cada sessão, peço que eles avaliem o que sentiram e que pratiquem sozinhos o exercício que mais lhes fez bem. Eles adquirem assim uma percepção global das técnicas e podem se   apropriar do exercício que lhes parece melhor para revisar uma prova ou controlar a ansiedade no dia D. Graças a esta pedagogia, eles percebem que têm um mental e emoções, e que é possível aprender a controlá-los."
Laurence Scheibling ensina em escolas e é professora de yoga, inserida no quadro do  ULIS (Unidade Localizada de Inclusão Escolar), junto a alunos portadores de uma leve deficiência, sensorial, motora ou mental. "Com os autistas, eu estimulo a atenção em relação ao outro por meio de exercícios de escuta e de relaxamento. Entre os que apresentam problemas motores, trabalhamos a postura e a sensação corporal."
Esta prática na escola depende por agora de iniciativas locais e espontâneas de educadores de modo geral, que foram formados nas técnicas de yoga ou de professores de yoga que estão inseridos no meio escolar.
No ministério da educação nacional, um responsável que acompanhou esse dossiê admite: "É uma iniciativa benéfica, e nós estudamos a proposta de Micheline Flak de integrar o yoga no quadro da experimentação lançada em 2010 [matérias fundamentais pela manhã e oficinas (cultura, artes, esporte) pela tarde]. Já existe expressão corporal e relaxamento.  Mas o yoga poderia se generalizar se houvesse organismos credenciados de qualidade ou reconhecidos que proponham um método pedagógico e uma formação como a do RYE." Mas é preciso ser prudente : "A atividade deve ser bem acompanhada pela coordenação. A escola continua  vigilante sobre a qualidade dos educadores e sobre o que se propõe aos alunos."
Pauline Garaude

SEMINÁRIO EURYE EM PORTUGAL











O Seminário Internacional do EURYE em Ofir - Porto, de 23 a 29 de julho de 2011 reuniu cerca de 90 participantes originários de 10 países: Portugal, Espanha, Grécia, França, Itália, Inglaterra, Bélgica, Bulgária, Nova Zelândia e Brasil.
Na palestra de abertura Micheline Flak falou sobre Relaxamento para crianças, com a técnica de Yoga Nidra, informando que segundo uma pesquisa no RYE esse é um dos exercícios preferidos pelas crianças e um dos mais solicitados tanto por professores como por alunos.
Laurence Scheibling que trabalha com crianças deficientes mentais, apresentou as sequências de exercícios utilizados com 3 perfis de diferentes comprometimentos, mostrando a importância da inclusão.
Jacques Benoît falou sobre a Comunicação Relacional, um método que considera a equidade de responsabilidade na relação entre os sujeitos expressa na sua comunicação.Identifica 5 aspectos presentes na educação, desde o berço: injunção; ameaça e chantagem; desqualificação, desvalorização, comparação; culpabilização e abuso de relação dominante/dominado.
Pelas manhãs as técnicas de yoga na educação contemplaram os níveis de educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, trazendo elementos para renovar sua aplicação em sala de aula. Às tardes os participantes se distribuíram entre as 4 oficinas que permitiram a expressão criativa através da dança indiana, da música cantada na escola, da impressão em papel de azulejos portugueses ou de mandalas e do qi gong (chi kung) ou a arte de cultivar a energia vital.






Impressões da Profª CARLA MARIA BARBOSA DANTAS - aluna da 2ª turma do curso Técnicas de Yoga na Educação - 2010


 


Durante as discussões sobre a diversidade e de como o Yoga e a educação estão unidos na tarefa de ampliar as capacidades e superar as dificuldades na sala de aula, compreendi que a escola precisa encontrar caminhos que reconheçam os saberes e fazeres das crianças. Reconhecer cada um na sua individualidade e também como parte de um grupo. E nesse aspecto é imprescindível agir com cautela, amor e conhecimento.
Ao iniciar a leitura do livro de Micheline Flak - Yoga na Educação - Integrando corpo e mente na sala de aula, uma fala de Swami Sivananda nos diz " Yoga é um sistema integral de educação, não apenas do corpo e da mente ou do intelecto. O Yoga educa e desenvolve a pessoa inteira - a cabeça, o corpo e o coração."    E  foi  a partir dessa busca na minha prática com as crianças, desenvolvendo atividades de Leitura, Escrita, Matemática, Ciências... no dia-a-dia que eu percebia a importância do Yoga como um elo nessa união entre  o corpo, o convívio e a linguagem.
O curso do RYE fundamentou a minha concepção de que o Yoga na escola pode ser entendido nos tempos atuais como uma tecnologia milenar que nos orienta, pois proporciona situações de  viver junto, consciência corporal, desenvolvimento da criatividade e nesse aspecto o corpo e o mental implicados na aprendizagem. Patanjali nos diz que o corpo e o mental são manifestações de uma energia que vai do denso ao sutil. " O desbravamento de nossas potencialidades se faz por etapas cuidadosamente programadas. A trajetória nos leva de maneira imperceptível mas segura, de fora para dentro, da mesma forma que a espiral do caracol"  ( Yoga na Educação pág 19).
E ainda discorrendo sobre os sentidos um dos textos do curso afirma : "Os sentidos humanos estão ligados  a determinados receptores sensoriais, altamente especializados, capazes de capturar estímulos diversos. Tais receptores  são formados por células  nervosas capazes de converter esses estímulos em impulsos elétricos que serão processados  em centros específicos do sistema nervoso central (SNC), onde será produzida uma resposta (voluntária ou involuntária)" Portanto educar os sentidos das crianças é algo de suma importância para a aprendizagem. O Yoga desenvolve tanto a percepção de si como do outro e, assim, entendemos o corpo como uma unidade que compreende também a mente e o coração. Micheline Flak nos diz: “A sensorialidade também tem um importante papel no Yoga. Ora, é pela sensorialidade que o mental se constrói".
Numa entrevista dada à revista Santé Yoga* Micheline nos fala da importância de aprender com todo o corpo e o quanto é essencial movimentar-se, pois isso é viver. Ao finalizar a entrevista, acredito que ela resume as idéias e o trabalho que envolve Yoga e Educação quando afirma:
            "Tomar consciência de seu corpo, de suas sensações, de suas emoções, é despertar a criança para o mundo interior, permitir que ela desenvolva sua criatividade e, talvez permitir que ela acesse algo de ordem espiritual" 
              * Artigo de Laurence Pinsard na Revista Santé Yoga no 102, janeiro 2010