ATENÇÃO ÀS MUDANÇAS DE DATAS
25/02/2013
Saiu no Le Monde de 11/11/12
Jennifer, Aliénor, Gabriel... ponham os tapetes em forma de estrela. Vamos nos sentar, as pernas cruzadas em lótus. Inspiramos pelas narinas, expiramos pelas narinas... calmamente... Apenas sentimos o ar que entra e sai... As costas eretas, vamos estender as mãos bem alto para o céu, como para tocar o topo de uma montanha. Agora, relaxem tudo e bocejem. Vamos nos levantar e nos inclinar balançando os braços" : Ulrika Dezé, graduada em ciências da educação e fundadora de Yogamini, um método lúdico e pedagógico de yoga, começa sua aula com os alunos da 2ª série do ensino fudamental da escola particular conveniada de Francs-Bourgeois, em Paris.
O projeto começou há três anos. "A diretora constatava que muitas crianças estavam estressadas, com dor de barriga e de cabeça. Elas tinham dificuldade de concentração e isso repercutia na sala. Propus uma oficina de yoga durante seis meses, e os resultados foram tão positivos, os professores ficaram tão satisfeitos, que as aulas foram implementadas. Se as crianças estão melhores em seus corpos e em suas cabeças, elas estão melhores na escola", diz Ulrika Dezé com um sorriso caloroso.
O yoga para crianças
é bem diferente daquele destinado aos adultos. Assim, as aulas alternam
histórias onde se imita as posturas, o cisne, a vela ou a árvore, episódios
relaxantes baseados na respiração para acalmar as emoções,
desenhos de mandalas favorecem a concentração e jogos que melhoram a relação com o
outro. Em alguns minutos, estes alunos agitados estão relaxados, concentrados e
sorridentes. Mesmo os mais indisciplinados, como Paul :"Adoro o yoga
porque não é trabalho e isso me descontrai." Aliénor chega a
fazer exercícios em casa pela manhã. "Trabalho melhor em sala,
aprendo melhor", confessa ela. Todos os alunos da 2ª série são
unânimes em dizer que essa
prática lhes faz bem.
Caroline Allard, a
professora deles confirma. "Quando eles saem da aula de yoga
semanal, eles estão concentrados, descansados, e posso aprofundar a
aprendizagem. Paul chega agora a ficar calmo. Ao final das sessões, vi sua atitude mudar e
suas notas subirem ! A escola privilegia os resultados e o
intelecto. Raramente o ser. São eles que me perguntam : "Professora,
e se respirássemos cinco minutos, se fizéssemos a árvore ?"
Para Ulrika Dezé, é importante sensibilizar os
educadores para esta experiência e formá-los ao yoga. "Eles fazem
as aulas, e isso lhes dá um instrumento em sala de aula. Se eles estão menos
estressados e voltam à calma interior, também saberão ensinar melhor e gerenciar sua sala", observa ela. Formar os
educadores é um eixo essencial do yoga na escola, defendido por Micheline Flak,
pioneira na França com um projeto piloto no colégio Condorcet em 1973, em
Paris, e fundadora da associação Recherche sur le yoga dans l'éducation –
Pesquisa sobre Yoga na Educação (RYE) em 1978. Ela formou mais de dois mil
educadores que integraram o relaxamento em seu tempo de aula – obtendo
resultados surpreendentes entre alunos com dificuldade.
O yoga se implanta no
meio escolar e já abrange 70 000 alunos. Dominique Daumail, professor de
educação física e esportiva num colégio de Pontoise, testemunha
: "Tenho adolescentes de 15 à 18 anos e muitos deles são
indisciplinados e ansiosos. Faço-os respirar traçando
uma linha ascendente e depois descendente, insistindo sobre a
expiração para eliminar as tensões e reduzir o
estresse físico, emocional e mental. EIes se acalmam em menos de cinco minutos,
depois observam interiormente seu estado de calma, de concentração e de escuta.
Então eles estão prontos para aprender."
Tornar os alunos
autônomos, é seu objetivo. "Após cada sessão, peço que eles
avaliem o que sentiram e que pratiquem sozinhos
o exercício que mais lhes fez bem. Eles adquirem assim uma percepção global das
técnicas e podem se apropriar do exercício que lhes parece melhor para revisar uma prova ou controlar
a ansiedade no dia D. Graças a esta pedagogia, eles percebem que têm um mental
e emoções, e que é possível aprender a
controlá-los."
Laurence Scheibling
ensina em escolas e é professora de yoga, inserida no quadro do ULIS
(Unidade Localizada de Inclusão Escolar), junto a alunos portadores de uma leve
deficiência, sensorial, motora ou mental. "Com os autistas, eu
estimulo a atenção em relação ao outro por meio de exercícios de escuta e de
relaxamento. Entre os que apresentam problemas motores, trabalhamos a postura e
a sensação corporal."
Esta prática na
escola depende por agora de iniciativas locais e espontâneas de educadores de
modo geral, que foram formados nas técnicas de yoga ou de professores de yoga
que estão inseridos no meio escolar.
No ministério da
educação nacional, um responsável que acompanhou esse dossiê admite: "É
uma iniciativa benéfica, e nós estudamos a proposta de Micheline Flak de
integrar o yoga no quadro da experimentação lançada em 2010 [matérias
fundamentais pela manhã e oficinas (cultura, artes, esporte) pela tarde]. Já existe expressão corporal e relaxamento. Mas o
yoga poderia se generalizar se houvesse organismos credenciados de qualidade ou
reconhecidos que proponham um método pedagógico e uma formação como a do
RYE." Mas é preciso ser prudente : "A atividade deve ser
bem acompanhada pela coordenação. A escola continua vigilante sobre a
qualidade dos educadores e sobre o que se propõe aos alunos."
Pauline Garaude
SEMINÁRIO EURYE EM PORTUGAL
O Seminário Internacional do
EURYE em Ofir - Porto, de 23 a 29 de julho de 2011 reuniu cerca de 90
participantes originários de 10 países: Portugal, Espanha, Grécia, França, Itália,
Inglaterra, Bélgica, Bulgária, Nova Zelândia e Brasil.
Na palestra de abertura
Micheline Flak falou sobre Relaxamento para crianças, com a técnica de Yoga
Nidra, informando que segundo uma pesquisa no RYE esse é um dos exercícios
preferidos pelas crianças e um dos mais solicitados tanto por professores como
por alunos.
Laurence Scheibling que
trabalha com crianças deficientes mentais, apresentou as sequências de
exercícios utilizados com 3 perfis de diferentes comprometimentos, mostrando a
importância da inclusão.
Jacques Benoît falou sobre
a Comunicação Relacional, um método que considera a equidade de
responsabilidade na relação entre os sujeitos expressa na sua
comunicação.Identifica 5 aspectos presentes na educação, desde o berço:
injunção; ameaça e chantagem; desqualificação, desvalorização, comparação;
culpabilização e abuso de relação dominante/dominado.
Pelas manhãs as técnicas
de yoga na educação contemplaram os níveis de educação infantil, ensino
fundamental e ensino médio, trazendo elementos para renovar sua aplicação em
sala de aula. Às tardes os participantes se distribuíram entre as 4 oficinas
que permitiram a expressão criativa através da dança indiana, da música cantada
na escola, da impressão em papel de azulejos portugueses ou de mandalas e
do qi gong (chi kung) ou a arte de cultivar a energia vital.
Impressões da Profª CARLA MARIA BARBOSA DANTAS - aluna da 2ª turma do curso Técnicas de Yoga na Educação - 2010
Durante as discussões sobre a diversidade
e de como o Yoga e a educação estão unidos na tarefa de ampliar as capacidades
e superar as dificuldades na sala de aula, compreendi que a escola precisa
encontrar caminhos que reconheçam os saberes e fazeres das crianças. Reconhecer
cada um na sua individualidade e também como parte de um grupo. E nesse aspecto
é imprescindível agir com cautela, amor e conhecimento.
Ao iniciar a leitura do livro de Micheline
Flak - Yoga na Educação - Integrando corpo e mente na sala de aula, uma fala de
Swami Sivananda nos diz " Yoga
é um sistema integral de educação, não apenas do corpo e da mente ou do
intelecto. O Yoga educa e desenvolve a pessoa inteira - a cabeça, o corpo e o
coração." E
foi a partir dessa busca na minha prática com as crianças, desenvolvendo
atividades de Leitura, Escrita, Matemática, Ciências... no dia-a-dia que eu
percebia a importância do Yoga como um elo nessa união entre o corpo, o
convívio e a linguagem.
O curso do RYE fundamentou a minha
concepção de que o Yoga na escola pode ser entendido nos tempos atuais como uma
tecnologia milenar que nos orienta, pois proporciona situações de viver
junto, consciência corporal, desenvolvimento da criatividade e nesse aspecto o
corpo e o mental implicados na aprendizagem. Patanjali nos diz que o corpo e o
mental são manifestações de uma energia que vai do denso ao sutil. " O desbravamento de nossas
potencialidades se faz por etapas cuidadosamente programadas. A trajetória nos
leva de maneira imperceptível mas segura, de fora para dentro, da mesma forma
que a espiral do caracol" ( Yoga
na Educação pág 19).
E ainda discorrendo sobre os sentidos um dos textos do curso
afirma : "Os sentidos humanos estão ligados a determinados
receptores sensoriais, altamente especializados, capazes de capturar estímulos
diversos. Tais receptores são formados por células nervosas capazes
de converter esses estímulos em impulsos elétricos que serão processados
em centros específicos do sistema nervoso central (SNC), onde será produzida
uma resposta (voluntária ou involuntária)" Portanto educar os sentidos das
crianças é algo de suma importância para a aprendizagem. O Yoga desenvolve
tanto a percepção de si como do outro e, assim, entendemos o corpo como uma
unidade que compreende também a mente e o coração. Micheline Flak nos diz: “A
sensorialidade também tem um importante papel no Yoga. Ora, é pela
sensorialidade que o mental se constrói".
Numa entrevista dada à revista Santé Yoga*
Micheline nos fala da importância de aprender com todo o corpo e o quanto é
essencial movimentar-se, pois isso é viver. Ao finalizar a entrevista, acredito
que ela resume as idéias e o trabalho que envolve Yoga e Educação quando afirma:
"Tomar consciência de seu corpo, de suas sensações, de suas emoções, é
despertar a criança para o mundo interior, permitir que ela desenvolva sua
criatividade e, talvez permitir que ela acesse algo de ordem espiritual"
* Artigo de Laurence
Pinsard na Revista Santé Yoga no 102,
janeiro 2010
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